Fonte: LEITE, José Roberto Teixeira. Introdução: A China no Brasil. In: ______. A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Campinas, SP: Ed. da Unicamp, 1999. p. 9-24.
A CHINA NO BRASIL
E que os chineses de fato marcaram, no Rio de Janeiro pelo menos, sua presença cultural, comprovam-no a curiosidade e o interesse que suscitaram nos viajantes europeus que, de passagem pela cidade, a eles se referiram, como Rugendas, Eberle, Mawe, Maria Graham, Maximiliano e tantos outros.
Até aqui temos considerado apenas a possibilidade de influências chinesas a nós chegadas pela atuação direta de indivíduos - não só altos funcionários civis e militares destacados para o Brasil após terem servido na Ásia, marinheiros da carreira da Índia ou nela engajados por força das circunstâncias, soldados enviados como reforço para guarnições asiáticas, missionários de regresso à Europa, enfermos recambiados, fugitivos da Justiça ou da Inquisição, oficiais mecânicos, desertores, aventureiros em busca da fortuna, bandidos, sentenciados, até artistas, todos tendo em comum o haver pisado terras portuguesas da Ásia Oriental, e por outro lado marinheiros e embarcadiços, escravos e pobres culis23 chineses, aqui desembarcados desde quem sabe os primeiros anos da colonização; cumpre agora que levemos em conta também influências determinadas ou avivadas pela introdução em nosso país, no período colonial e até às décadas iniciais do Oitocentos, de produtos chineses, e isso porque, como Gilberto Freyre, acreditamos que dificilmente se admite que um ser social e cultural tão cercado de "objetos materiais" do Oriente, como o brasileiro - ou o português do Brasil - da época colonial e dos primeiros anos do século XIX não sofresse influências orientais nos seus modos de pensar e de sentir. Sofreu-as e foram influências que principalmente reforçaram no sexo, na classe e na raça dominantes, ou senhoris, atitudes patriarcais de superioridade sobre os demais elementos da sociedade.24
Mercadorias chinesas - fazendas, para utilizar a terminologia usada em tempos coloniais nos mapas ou nas relações de carga das embarcações - eram já relativamente numerosas no Brasil da segunda metade do século XVI, como nos informam Fernão Cardim e outros autores da época.25 Durante o século XVII e de modo especial no século XVIII elas se tornarão abundantes, e assim continuariam ainda no começo do século XIX, quando cedem vez no gosto do público aos produtos ingleses, franceses e de outras origens ocidentais.
Dentre todas as mercadorias que ao longo de mais de três séculos o Brasil recebeu da China, a porcelana foi decerto a mais apreciada - hé adroga que mais facilmente se vende nesta terra, como se lê num manuscrito do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa relativo à carga trazida da Índia na nau São José, aportada a Salvador em maio de 1758.26 Tal predileção dos brasileiros e luso-brasileiros explica o enorme número de porcelanas que recebemos, e que certos cálculos chegam a orçar em 10 milhões de peças.27
http://74.125.77.132/search?q=cache:D-6I84uc3a0J:www.fundaj.gov.br/china/texto1.rtf+%22marinheiros+asiaticos%22+%22carreira+da+india%22+brasil&hl=es&ct=clnk&cd=1
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