A dinâmica da presença brasileira no Índico e no Oriente. Séculos XVI-XIX1
Anthony John R. Russel-Wood
.................................................Na década de 1690 houve várias consultas do Conselho Ultramarino a respeito do Brasil como fonte potencial de soldados para suprir as guarnições portuguesas na Índia. Parece mesmo que houve uma ordem régia neste sentido. Pressionado pela comunidade mercantil de Salvador que esperava que fosse aprovado o comércio franco entre o Brasil e
Moçambique e a Índia, em 1699 o governador-geral em Salvador enviou para Lisboa uma proposta que enfatizava as alegadas vantagens financeiras para a Coroa caso mandasse soldados diretamente do Brasil para a Índia.13
Com certeza houve participação baiana — mesmo sendo às vezes constrangida— e soldados e oficiais de origem brasileira serviram na Índia no percurso do século XVIII. Um edital régio de 1748, requerendo alistamento voluntário de 1.500 soldados, para a guarnição militar da Índia, foi publicado em Salvador.14 Há notícias de soldados passando por Salvador, de volta da Índia a caminho de Portugal; contudo, há dúvidas se uma campanha para alistamento em Salvador teria reunido muitos voluntários para servir na Índia. Mesmo assim, na década de 1780, soldados de “guarnição de carreira” foram remetidos de Salvador para Moçambique, criando um problema
para o governador daquele território que não contava com recursos financeiros para pagar os soldos de tais soldados.15
Em 1786 o governador da ilha de Moçambique acusou a chegada de dois “soldados incorrigíveis” mandados pelo governador de Salvador. Também na década de 1780, vários soldados do regimento de infantaria em Salvador foram mandados para Índia como punição por sua má conduta. Em 1789, foram embarcados em Salvador, na nau Nossa Senhora da Conceição e Santo Antônio, três soldados degredados para a Índia pelos seus crimes: dois do segundo regimento de infantaria da guarnição de Salvador e um do regimento de infantaria de Pernambuco.16
13 Consulta do Conselho Ultramarino, 21 de Março de 1690; resposta do governador, 23 de Janeiro de 1691, HAG, Livros das monções, vol. 55A, fols. 201, 203. Apud Coates, Degredados e orfãs, p. 144, e nota 165. A respeito da proposta do governador-geral do Brasil em 1699, veja HAG, Livros das monções, vol. 64, fols. 170r-173r). Veja também P. P. Shirodkar, “Brazil’s Colonial Administration as Reflected in Goa Archives”,
Purabhilekh-Puratatva, vol. 8. No. 1, Janeiro/Junho, 1990. Special Issue Índia and Brazil, pp. 26-27. Sobre a Consulta do Conselho de Estado em Goa de 14 de Outubro de 1702, veja Archana Kakodkar, “Source Material for Latin America in Goa (With Special Reference to Brazil)”. In: Essays in: Goan History. Editado por T. R. de Souza. Nova Delhi: Concept Publishing Company, 1989, p. 211 Veja também Philomena Anthony. “Colonial Brazil and Goa: Visible and Invisible Links”, Purabhilekh-Puratatva. Vol. 8. No. 1, Janeiro/Junho,
1990, pp. 82-83 e nota 34.
14 Eduardo de Castro e Almeida (org.). Inventário dos documentos relativos ao Brasil existentes no Archivo de Marinha e Ultramar de Lisboa. Vol. 2. Bahia, 1763-1786. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1914, no. 10.536-537.
15 António de Melo e Castro, governador de Moçambique a Rodrigo José de Meneses, governador da Bahia. Moçambique, 15 de Dezembro de 1786. Arquivo Público do Estado da Bahia (abreviação, APB). Correspondência recebida pelo Governo da Bahia. Vol. 197. Governador de Moçambique, doc. 3.
16 António Manuel de Mo. e Castro ao governador da Bahia, Rodrigo José de Meneses, Moçambique 29 de Novembro de 1786; e de 15 de Dezembro de 1786. APB, Correspondência recebida pelo Governo da Bahia. Vol. 197. Governador de Moçambique, docs. 2 e 3; HAG, Livros das monções, 171B, fols. 568r-72r.
http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi03/topoi3a1.pdf
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