domingo, 6 de septiembre de 2009

Construindo a Corte: o Rio de Janeiro e a nova ordem urbana




Gravura(central):Titulo CAPOEIRA Digital:icon395061_73v_238.tifAutor/Criador:Ender, Thomas, 1793-1875.Título:[Estudos de atitudes: capoeira.]Data:[18--].Em:-Thomas Ender -Procedente do Gabinete de Gravuras do Museu de Belas Artes de Viena.
Gravura exterior:Rua Direita ,Thomas Ender-Rio


Construindo a Corte: o Rio de Janeiro e a nova ordem urbana.


Renata William Santos do ValeMestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio-Pesquisadora do Arquivo Nacional.


...................Antes de 1808, o Rio de Janeiro - embora já capital da colônia do Brasil desde 1763 - era uma cidade colonial de proporções moderadas. A cidade ocupava o espaço desde o mar até as franjas dos morros e a região central não ia além do Campo de Santana. O Rio era uma cidade de casas térreas simples, de ruas estreitas, boa parte delas carecendo de calçamento, ocupadas por escravos, libertos, brancos pobres, comerciantes, artesãos e uma pequena presença de senhoras brancas........................Uma cidade que se acostumou a usar o trabalho escravo para tudo, desde o transporte de pessoas (em liteiras e cadeirinhas) até a remoção de esgoto (carregado nas costas pelos ‘tigres'[11]), cuja sociedade associava o trabalho braçal à degradação, não poderia abrir mão do regime escravista. A saída encontrada, ao que parece, foi usar essa mesma mão-de-obra para criar a nova cidade, a nova Corte.[12]


12] Ao mesmo tempo que crescia vertiginosamente a entrada de escravos e a dependência de seu trabalho, aumentavam e se intensificavam, também, os mecanismos de controle, punição e disciplina - diminuindo sua circulação nas ruas pelo estabelecimento do toque de recolher depois do pôr-do-sol, reprimindo reuniões e ajuntamentos em botequins e vendas, e perseguindo capoeiras, aquilombados, punindo severa e exemplarmente seus delitos. Cf. edital que estabelecia o horário de fechamento de botequins, vendas e casas de jogos na seção D. João nas Escolas.


O Império de
D. João
Alberto da Costa e Silva
Ocupante da Cadeira 9 na Academia Brasileira de Letras.

...............Com cerca de 60 mil habitantes, na maioria escravos, a cidade convivia comdiferentes códigos sociais, tanto de negros escravos e libertos, de uma grande população livre e pobre, bem como da rigidez de um pequeno grupo aristocrático, formado de funcionários da Coroa, do clérigo e de comerciantes enriquecidos. As elites mais abastadas residiam fora da desordem urbana, em chácaras nos bairros distantes mais arejados, como Botafogo, Catete e Laranjeiras. A cidade
apresentava todo o exotismo dos trópicos em exuberante paisagem, em poucos aspectos tendo semelhança com Lisboa, mas longe de se confundir com outras cidades européias.
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O Rio de Janeiro no tempo de D. João VI Os inúmeros europeus que visitaram o país nessa época deixaram vasta literatura, já bastante estudada, que serve para ilustrar o cotidiano da cidade e seus habitantes, descritos por alguns como pessoas sem educação e instrução. Trajavam
túnicas de algodão ou quimonos chineses, provenientes das embarcações vindas
da Índia e da China
, o que dava um aspecto oriental/asiático à cidade. Apesar da proibição de importação de produtos estrangeiros, um intenso comércio contrabandeado era realizado em especial nos portos do Rio de Janeiro e de Salvador, onde os barcos paravam, muitas vezes, com a desculpa de consertar avarias ou atender enfermos.

....................
Apesar de a entrada de estrangeiros haver sido controlada pela Intendência-Geral da Polícia do Rio de Janeiro, criada logo em 1808 e em cujos livros ficaram anotados os dados referentes aos imigrantes, é de difícil contabilidade esse número. Podem ter-se alcançado cifras como as mencionadas pelo economista Carlos Lessa, em seu livro O Rio de Todos os Brasis: “Entre 1808 e 1822, foi registrada a fixação de 4.234 estrangeiros, sem contar os seus familiares, entre 1.500 espanhóis, 1.000 franceses, 600 ingleses e centenas de alemães, italianos, suíços, suecos, holandeses, etc. Até chineses e hindus vêm para o Rio.” Os franceses só começaram a chegar ao país depois de 1814, com o término da guerra napoleônica e a paz européia.

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